quarta-feira, 23 de setembro de 2009

UMA LENDA CHINESA

Era uma vez, uma jovem chamada Lin, que se casou e foi viver com o marido na casa da sogra.

Depois de algum tempo, começou a ver que não se adaptava à sogra.

Os temperamentos eram muito diferentes e Lin cada vez se irritava mais com os hábitos e costumes da sogra, que criticava cada vez com mais insistência.

Com o passar dos meses, as coisas foram piorando, a ponto da vida se tornar insuportável. No entanto, segundo as tradições antigas da China, a nora tem que estar sempre a serviço da sogra e obedecer-lhe em tudo.

Mas Lin, não suportando por mais tempo a ideia de viver com a sogra, tomou a decisão de ir consultar um Mestre, velho amigo do seu pai.

Depois de ouvir a jovem, o Mestre Huang pegou num ramalhete de ervas medicinais e disse-lhe: "Para te livrares da tua sogra, não as deves usar de uma só vez, pois isso poderia causar suspeitas. Vais misturá-las com a comida, pouco a pouco, dia após dia, e assim ela vai-se envenenando lentamente. Mas, para teres a certeza de que, quando ela morrer, ninguém suspeitará de ti, deverás ter muito cuidado em tratá-la sempre com muita amizade. Não discutas e ajuda-a a resolver os seus problemas."

Lin respondeu: "Obrigado, Mestre Huang, farei tudo o que me recomenda".

Lin ficou muito contente e voltou entusiasmada com o projeto de assassinar a sogra.

Durante várias semanas, Lin serviu, dia sim dia não, uma refeição preparada especialmente para a sogra. E tinha sempre presente a recomendação de Mestre Huang para evitar suspeitas: controlava o temperamento, obedecia a sogra em tudo e tratava-a como se fosse a sua própria mãe.

Passados seis meses, toda a família estava mudada. Lin controlava bem o seu temperamento e quase nunca se aborrecia. Durante estes meses, não teve uma única discussão com a sogra, que também se mostrava muito mais amável e mais fácil de tratar com ela. As atitudes da sogra também mudaram e ambas passaram a tratar-se como mãe e filha.

Certo dia, Lin foi procurar o Mestre Huang, para lhe pedir ajuda e disse-lhe: "Mestre, por favor, ajude-me a evitar que o veneno venha a matar a minha sogra. É que ela transformou-se numa mulher agradável e gosto dela como se fosse a minha mãe. Não quero que ela morra por causa do veneno que lhe dou."

Mestre Huang sorriu e abanou a cabeça: "Lin, não te preocupes. A tua sogra não mudou. Quem mudou foste tu. As ervas, que te dei, são vitaminas para melhorar a saúde. O veneno estava nas suas atitudes, mas foi sendo substituído pelo amor e carinho que lhe começaste a dedicar. "

Na China, há um provérbio que diz:

"A pessoa que ama os outros também será amada".

Os árabes têm outro que diz:

"O nosso inimigo não é aquele que nos odeia, mas aquele que nós odiamos."

Fotos retiradas do arquivo de imagens do google

sábado, 19 de setembro de 2009

O DOIDO DA GARRAFA

Ele não era mais doido do que as outras pessoas do mundo, mas as outras pessoas do mundo insistiam em dizer que ele era doido.

Depois que se apaixonou por uma garrafa de plástico de se carregar na bicicleta e passou a andar sempre com ela pendurada na cintura, virou o Doido da Garrafa.

O Doido da Garrafa fazia passarinhos de papel como ninguém, mas era especialista mesmo em construir barquinhos com palitos. Batizava cada barco com um nome de mulher e, enquanto estava trabalhando nele, morria de amores pela dona imaginária do nome. Depois ia esquecendo uma por uma, todas elas, com exceção de Olívia, uma nau antiga que levou dezessete dias para ser construída.

Batucava muito bem e vivia inventando, de improviso, músicas especialmente compostas para toda e qualquer finalidade, nos mais variados gêneros. Vai aí aquela da mulher de blusa verde atravessando a rua apressada, e o Doido da Garrafa imediatamente compunha um samba, uma valsa, um rock, um rap, um blues, dependendo da mulher de blusa verde, do atravessando, da rua e do apressada. Geralmente ficava uma obra-prima.

Gostava muito de observar as pessoas na rua, do cheiro de café, de cantar e de ouvir música. Não gostava muito do fato de ter pernas, mas acabou se acostumando com elas. De cabelo ele gostava. Em compensação, tinha verdadeiro horror a multidão, bermudão, tubarão, ladrão, camburão, bajulação, afetação, dança de salão, falta de educação e à palavra bife.

Escrevia cartas para ninguém, umas em prosa, outras em poesia, como mero exercício de estilo.

Tinha mania de dar entrevistas para o vento e já sabia a resposta de qualquer pergunta que porventura alguém pudesse lhe fazer um dia.

Ajudava o dicionário a explicar as coisas inventando palavras necessárias, como dorinfinita.

Adorava álgebra, mas tinha particular antipatia por trigonometria, pois não encontrava nenhum motivo para se pegar pedaços de triângulos e fazer contas tão difíceis com eles.

Conhecia mitologia a fundo.

Tinha angústia matinal, uma depressão no meio da tarde que ele chamava de cinco horas, porque era a hora que ela aparecia, e uma insônia crônica a quem chamava carinhosamente de Proserpina.

Sentia uma paixão azul dentro do peito, desde criança, sempre que olhava o mar e orgulhava-se muito disso.

Acreditava no amor, mas tinha vergonha da frase.

Às vezes falava sozinho, Preferia tristeza à agonia.

Todas as noites, entre oito e dez e meia, era visto andando de um lado para o outro da rua, método que tinha inventado para acabar de vez com a preocupação de fazer a volta de repente, quando achava que já tinha andado o suficiente. (Preferia que ninguém percebesse que ele não tinha para onde ir.) Enquanto andava, repetia dentro da cabeça incessantemente a palavra ecumênico sem ter a menor idéia da razão pela qual fazia isso.

Durante o dia o Doido da Garrafa trabalhava numa multinacional, era sujeito bem visto, supervisor de departamento, ganhava um bom salário e gratificações que entregava para a mulher aplicar em fundos de investimento.

No fim do ano ia trocar de carro.

Era excelente chefe de família.

Não era mais doido do que as outras pessoas do mundo, mas sempre que ele passava as outras pessoas do mundo pensavam, lá vai o Doido da Garrafa, e assim se esqueciam das suas próprias garrafas um pouquinho.

Adriana Falcão

Fonte: Conto extraído do livro O Doido da Garrafa, de Adriana Falcão
[Imagem: Getty Image]

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Tiradentes/MG

Hoje eu vou falar de Tiradentes, esse encanto de cidade que eu recomendo e não canso de visitar.Durante o dia ou à noite, caminhar pelas ruas da cidade é uma delícia. Não apenas pela beleza arquitetônica dos casarios coloniais, mas também pelo charmoso comércio que se estende ao longo das ruas principais.Com uma boa garimpagem encontram-se aquelas pequenas sutilezas indispensáveis para vestir com bom gosto e graça qualquer casa. E mais ainda, as opções de antiquários, galerias de arte, museus, igrejas, restaurantes e inumeráveis outras lojas, que expõem objetos de cerâmica, madeira e artesanatos típicos da região. Falar de Tiradentes e não mencionar a cozinha mineira é cometer uma enorme heresia. Além da excelente comida caseira da Nazaré, dona da casa que alugo toda vez que visito a cidade, gosto do restaurante da Beth e tenho um carinho especial pelo simpaticíssimo restaurante Ora Pro Nobis, da Áurea, onde eu passei um reveillon em companhia da minha mãe, irmãos, minha filha mais nova e sobrinhos. Fica aqui a minha dica. Tiradentes merece ser visitada, porque é sinônimo de cultura, tradição e garantia de muito bom gosto!

Um pouco da história de Tiradentes:

Formada em início do século XVIII, a cidade de Tiradentes originou-se do pequeno arraial da Ponta do Morro. Graças à abundância do ouro encontrado, o arraial desenvolveu-se rapidamente, sendo elevado à categoria de vila em 1718, quando recebeu a denominação de São José del-Rei.
Nas primeiras décadas do século XVIII, foi construída a maior parte de seu casario e de suas edificações religiosas, como a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, em 1708, e a Matriz de Santo Antônio, em 1710. Ao redor das igrejas e capelas, localizadas em pontos elevados da cidade, as casas foram se firmando numa configuração que permanece até hoje.

Em 1889 passou a chamar-se Tiradentes, em homenagem ao herói da Inconfidência Mineira, Joaquim José da Silva Xavier. Hoje, uma das importantes fontes de renda da cidade é o turismo. A cidade foi tombada como Patrimônio Histórico Nacional em 1938 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Iphan, resguardando-se não só seu conjunto arquitetônico como também áreas de seu entorno paisagístico, especialmente a imponente Serra de São José com agradáveis cachoeiras e vegetação remanescente da Mata Atlântica.

sábado, 12 de setembro de 2009

"O que é a honra? Uma palavra. O que há nessa palavra honra? Vento." (William Shakespeare)

Pensei em comentar sobre a eleição de Fernando Collor de Mello para a Academia Alagoana de Letras no dia 2 de setembro, mas achei melhor deixar prá lá! Graciliano Ramos, lá do céu, deve estar comovido com a "obra" do seu conterrâneo.

Pensei em comentar sobre a notícia que confirmou que Nelsinho Piquet provocou um acidente de propósito no GP de Cingapura de 2008, a mando da Renault, para facilitar a vitória de Fernando Alonso e renovar o seu contrato, mas achei melhor virar a página.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

MATISSE - O Gênio das Cores

Henri Matisse (1869-1954), ‘o gênio das cores’, no ano de 1908 causou raiva e confusão com suas telas de cores intensas, violando todas as convenções da arte tradicional.

Convidado por uma revista a explicar-se, Matisse redigiu um curto texto, intitulado "Notas de um pintor", em que afirmava: "Sonho com uma arte de equilíbrio, de pureza, de tranquilidade, sem temas inquietantes ou preocupantes, uma arte que seja, para qualquer trabalhador cerebral, quer o homem de negócios, quer o homem cultivado, um lenitivo, um calmante mental, algo como uma boa poltrona onde ele possa relaxar do cansaço físico".

Para o público da época, o texto soou como uma provocação, enquanto Matisse, desprovido de qualquer ironia, demonstrou ao longo da sua trajetória que, para ele, uma boa obra de arte era aquela capaz de transmitir equilíbrio e serenidade às pessoas.

É um engano imaginar que a luz e a cor transbordantes das telas de Matisse refletem uma vida sem dores. "Meu papel é apaziguar. Porque, de minha parte, eu também preciso de apaziguamento", disse.

"Gostaria de captar o frescor da visão característica da juventude, quando tudo no mundo é novo", comentou certa vez.

No dia 5 deste mês de setembro, a Pinacoteca do Estado, em São Paulo, inaugurou a exposição Matisse Hoje – a primeira individual do artista no Brasil, com 93 itens, entre pinturas, desenhos, esculturas e gravuras. A mostra faz parte das comemorações do Ano da França no Brasil.

Distribuída pelas sete salas do museu, a exposição destaca todas as fases da produção do artista francês, começando pelas paisagens do início da carreira, perto de 1890, e finalizando com seus "papiers découpés", os papéis recortados a que Matisse se dedicou no fim da vida.

Vistas lado a lado, as criações demonstram a estabilidade de sua trajetória. "Os recortes são uma fase interessante porque Matisse já é um senhor na época em que os inventa. Ele não teve um momento de glória, de auge, e depois decaiu. Ele foi se renovando. Criou uma nova técnica mesmo", diz Regina Teixeira de Barros, que presta assistência de curadoria na exposição.

Um programa imperdível e da maior importância em época vindoura de primavera!


Fontes pesquisadas:

Revista Veja – Matéria assinada por Carlos Graieb e Marcelo Marthe
Revista Bravo – Matéria assinada por Por Gisele Kato