sexta-feira, 12 de junho de 2009

EROS E PSIQUÊ

"No século II d. C., o escritor romano Apuleio compôs a estória de amor entre Eros e Psiquê (Alma). Na verdade, seu relato tem raízes na mitologia [grega] e guarda profundo significado alegórico. Partindo de dados elaborados pela tradição platônica, mostra que só o amor consegue tornar a alma feliz, e que esta é capaz de enfrentar todos os obstáculos para reencontrar o Amor, filho da Beleza. Por essa razão é que, dentre as várias lendas sobre a origem de Eros, existe aquela que o faz nascer de Afrodite (Vênus), deusa do amor e da beleza”… Dois Caminhos: O primeiro grande filósofo racionalista da história do pensamento ocidental, Parmênides de Eléia (séc. VI a.C.), em seu poema Sobre a Natureza, traça dois caminhos que se oferecem aos mortais: 1º) o das opiniões fundadas nos depoimentos dos sentidos; e 2º) o da certeza alcançada estritamente por meio da razão [iluminada]. “Ao descrever essa segunda via, Parmênides oferece uma versão da origem do universo, como constituído por dois princípios contrários – Luz e Noite [Trevas]. Todas as coisas seriam assim composta pela mescla desses dois princípios em equilíbrio recíproco. Eros [o deus do Amor], o seu intermediário por excelência, aparece então como o autor da mescla que é o fundamento do universo”. [Cf. Mitologia, vol. I, p. 35/36, Abril Cultural, 1973]. Alimento dos deuses - Existe um princípio de que se é o que se come: “Os deuses gregos conquistaram a bem-aventurança e a imortalidade através de perigos e lutas. Sua comida, a ambrosia, “a que mantém a imortalidade”, sua bebida, o néctar, “que a reforça”, e o prazer perpétuo foram alcançados mediante a vulnerabilidade e o trânsito de uma situação incerta para uma outra estável”. [.] [Dicionário Mítico-Etimológico, p. 340, Junito Brandão, Vozes, 1992].

Mito de Psiquê: O amor não pode viver sem confiança
Mitologia Greco-Romana

Psiquê era uma jovem princesa tão bela que de todas as partes acorria gente para admirá-la, e os peregrinos quase não freqüentavam mais o templo de Vênus (Afrodite) para prestar culto à divina Beleza.

Indignada com o fato de uma simples mortal receber tantas honras, a deusa pediu a seu filho Eros, o deus do Amor, que atingisse a jovem com suas setas para enamorar-se do homem mais desprezível.

A beleza da mortal porém era tão grande que, ao ver a princesa, o próprio Eros se apaixona e não lhe lança as setas, ordenadas por sua mãe. E assim, enquanto as duas irmãs de Psiquê casam-se com reis, a jovem mortal, embora amada por um deus, permanece só.

Apreensivo, seu pai consultou o Oráculo de Apolo, o deus de luz e sabedoria. Mas, Eros já procurara Apolo e fizera-o aliado de seu amor. O oráculo aconselha então ao soberano a levar a filha, em vestes nupciais, até o alto de determinada colina. Lá, uma serpente alada, mais forte que os próprios deuses, iria tomá-la como esposa.

Sentindo-se impotente diante das ordens divinas, a jovem princesa prepara-se para as bodas com se fosse seu funeral, e é deixada só na colina. Psiquê em prantos aguardou que se consumasse o seu triste destino. Esgotada pela longa espera, foi tomada de sono e adormece.Surge então Zéfiro, a doce brisa cujo sopro desabrocha as flores na primavera, e transportou-a adormecida a um prado florido, às margens de um regato cristalino, próximo de um magnífico castelo.

Quando Psiquê desperta, ouve uma voz convidando-a a entrar no castelo; banhar-se e jantar. Mãos invisíveis a servem, mas nenhum temor a aflige. À noite, oculto pela escuridão, Eros cobriu-a de carícias e amou-a, recomendando insistentemente que jamais tentasse vê-lo.Durante algum tempo, apesar de não conhecer o rosto do esposo, Psiquê sentia-se a mais feliz das mulheres. Saudosa porém de suas irmãs, pede para vê-las. Em vão Eros advertiu que, ao reaproximar-se delas, estaria reatando laços terrenos. Pediu então que se precavesse contra as desgraças que, através das duas irmãs, lhe poderia advir.

Zéfiro levou-as ao castelo, mas invejosas da riqueza e felicidade de Psiquê, as jovens começaram ardilosamente a insinuar dúvidas e desconfiança em seu coração. Diziam que o esposo que desconhecia escondia-lhe o rosto porque devia ser o monstro previsto pelo oráculo.Aconselharam-na a esperá-lo adormecer e preparar uma lâmpada e uma faca afiada: com a primeira, veria a verdadeira face do esposo; com a segunda, poderia matá-lo, se fosse mesmo o monstro.

À noite, Eros volta e envolve-a em carícias. Mas, quando dorme, a dúvida volta a afligir o coração de Psiquê. Traz a lâmpada, ilumina-lhe o rosto e vê o mais belo semblante que jamais existira. Emocionada, deixa cair uma gota da lâmpada de azeite no ombro do deus.

Eros desperta sobressaltado e, num relance, percebe o acontecido; seu rosto cobre-se de profunda tristeza e foge sem dizer uma palavra. Psiquê tenta alcançá-lo nas trevas; ouve apenas sua voz ao longe que lhe diz em tom de censura: “O amor não pode viver sem confiança”.

Cheia de dor, a jovem pôs-se a errar de templo em templo, implorando o auxílio dos deuses para reencontrar o amor perdido. Temendo a fúria de Vênus-Afrodite, todos recusam-se a auxiliá-la.Como último recurso, Psiquê decide ir à presença da própria deusa, mas encontra apenas zombaria e a imposição de uma série de provas humilhantes, impossíveis de um mortal realizá-las.

A primeira, era separar até à noite imensa quantidade de grãos de várias espécies; depois, tosquiar a lã de ouro de carneiros selvagens; a terceira prova era buscar um frasco com a água escura do Estige.

Psiquê porém recebe ajuda inesperadas: na primeira, é auxiliada por levas de formigas. Na segunda, os caniços da beira de um regato sugerem-lhe que recolha os fios de ouro deixados pelos carneiros nos arbustos espinhosos. Na terceira, uma águia tirou-lhe o frasco da mão, voou até a nascente do Estige, e trouxe-lhe o líquido negro.Decepcionada, Vênus (Afrodite) decide impor-lhe ainda uma quarta e mais difícil prova: descer ao Hades (Inferno) e persuadir Perséfone (Prosérpina) a dar-lhe numa caixa um pouco de sua beleza.

No caminho, uma alta torre descreveu-lhe o roteiro para o reino das sombras. Para atravessar à outra margem do Estige, pagar o óbolo ao barqueiro Caronte. Ante o portão do Inferno, guardado pelo feroz Cérbero, o cão de três cabeças, abrandá-lo com um bolo.

Psiquê assim fez e já voltava com a caixa da beleza, quando surge outra prova, agora dentro de si mesma: a vaidade. Acreditando que os sofrimentos e tantas tribulações a tivessem enfeado, resolveu retirar da caixa um pouco de beleza. Mas, ao abri-la, cai em profundo sono.

Eros, que saíra à sua procura, despertou-a com a ponta de uma das setas. A seguir, o deus do Amor dirigiu-se ao Monte Olimpo e pediu a Júpiter (Zeus) para esposar a mortal. O pedido foi aceito, mas seria preciso que, antes, Psiquê se tornasse imortal. O próprio Zeus deu-lhe a ambrosia e o néctar dos deuses, que lhe conferia a imortalidade.

E o casamento sagrado pôde, enfim, ser celebrado.



Fonte: http://www.magisterlux.com

Eros e Psique, escultura de Antônio Canova, no Museu do Louvre, em Paris

2 comentários:

  1. Amo mitologia! Aliás, enquanto ensaiava colocar meu blog no ar, já tinha planos de escrever a respeito. Isso ainda não aconteceu, mas há de acontecer ainda! Delicioso esse post!

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  2. Angela, parabéns pelo blog! Meu pai e eu também temos um, que fazemos juntos, sobre mitologia. Passa lá: www.paxdedeux.blogspot.com

    Abraço,

    Claudia

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