segunda-feira, 22 de junho de 2009

PASSEIO DE BICICLETA

O inverno chegou no domingo. Para comemorar a data, tirei a bicicleta da garagem e fui pedalar na praia. De boné e óculos escuros segui pela ciclovia em direção ao arpoador. Como não sou propriamente o que pode-se chamar de “uma esportista”, antes de virar a esquina da minha rua atropelei o meu namorado que, sem achar a menor graça, tentava se equilibrar em cima da sua bicicleta e desviar do poste que eu o havia arremessado.

Seguimos em frente, ele agora mais cauteloso e dando a devida distância de mim, e eu visivelmente nervosa e me perguntando se não seria mais prudente voltar para casa e pegar o meu cachorro para dar uma volta com toda a segurança e sobre os meus próprios pés. Mas não dei o braço a torcer, ou melhor, os pés a torcer. Combinamos que eu guiaria na frente, sob o argumento que ele viria atrás de mim para me dar proteção e, conforme observei, a uma distância razoável, para se proteger de mim.

O banco da bicicleta, duro demais, incomodava. As mãos e os dedos doíam pela tensão com que eu segurava o guidon. Cada obstáculo ou pino que surgia na minha frente era o suficiente para me desestabilizar emocionalmente pelo medo de perder mais uma vez o controle, cair, me machucar, e o que é pior, machucar alguém que cruzasse o meu caminho.

Na praia, me posicionei obediente e atenta na minha mão ao longo da ciclovia. Só tinha olhos para seguir adiante, como se eu fosse um soldado perfilado numa parada militar, torcendo pela hora de chegar ao Arpoador para esticar as pernas e acabar com toda aquela aventura torturante do meu primeiro dia de inverno.

Num quiosque do Arpoador tomei água de coco, me alonguei, e me pus novamente no caminho de volta. Então me dei conta que a insegurança ficara para trás. E finalmente pude olhar a paisagem e aproveitar o passeio. Avistei adiante o Morro Dois Irmãos e a praia colorida pelas barracas de sol e pelas pessoas que tomavam banho de mar. Na pista fechada para o trânsito de automóveis, adultos, skatistas, crianças, idosos e toda sorte de pedestres ocupavam a avenida aproveitando o dia para caminhar, pegar sol, olhar e sentir a vida. Me senti liberta, independente e novamente senhora de mim e da minha auto-confiança. As mãos já não doíam e nem o banco me incomodava. A bicicleta ficara leve e eu deslizava feliz e tranquila pela ciclovia. Nas esquinas da Rua Bartolomeu Mitre com a Avenida Delfim Moreira, sugeri ao meu namorado tomar um chopp.

Sugestão aceita, seguimos então para o Tio Sam, pedimos chopp acompanhado de caldinho de feijão. O melhor: agora relaxada e totalmente recuperada da indescritível crise de falta de confiança que me acometeu. Um programa simples e que tem a minha cara, tipicamente carioca!

10 comentários:

  1. Parabens pelo blog...vc escreve mto bem!! e que inveja poder sair num dia e ver a praia neh? eu que ja morei na praia sei o como isso eh maravilhoso e como simplesmente olhar o mar acalma a alma!!!!
    acho que eu em um passeio de bicicleta passaria pela mesma situação e tensão que você hahahaha mas depois vem a recompensa!

    beijinhus

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  2. Obrigada, Prika. Adorei o seu comentário e a sua visita. O meu blog começou há pouco tempo e a sua presença, assim como as suas palavras, são um enorme incentivo para mim. Obrigada, querida,obrigada mesmo e volte sempre, tá! Um beijinho para você também.

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  3. Mamãe, fico impressionada como você escreve bem! Queria eu saber escrever assim!! Parabéns pela sua crônica e pelo seu blog =)
    Continue postando e me mostrando, pq eu vou estar sempre lendo!! te smo, beijos sua filha, Bruna

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  4. Que delícia!!!! Adorei seu texto. Parabéns! Mil bjs

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  5. Minha querida amiga!
    Você não sabe que quando se pilota, não se pode ingerir alcool?
    Pensa bem: quantas formiguinhas você atropelou?
    rsrsrsrs... muito legal o seu texto; a gente até fica com um pouco de inveja, mas depois vai tomar um chocolate quente... fazer o que?
    Beijos!
    Paulo

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  6. Bruna,Inês,Gisele e Paulo,
    Obrigada pelos comentários de vocês. Bom saber que gostaram, mas não invejem, queridos, façam!Espero que vocês não sofram como eu sofri durante o tempo que durou a minha crise de perda da auto-confiança.rs

    Paulo, foi um chopp só, amigo. Que risco correram as formiguinhas! E eu nem pensei nelas. Da próxima vez prometo que tomarei mais cuidado. Beijos

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  7. Oi! Estou aqui, em pleno inverno gaúcho, programando meu domingo. Procurando informações na internet sobre Dois Irmãos, uma cidade gaúcha, pertinho de Porto Alegre, coloquei no google: "2irmãos passeio de bicicleta" e caí no teu blog. Achei muito interessante a coinscidência e simpatizei muito com teu blog. Depois, quero ler mais e com mais calma mas, por enquanto, parabéns e te convido para visitar o meu: www.seminhabicifalasse.blogspot.com
    Um grande abraço, do friozinho aqui de Porto Alegre, Tiane

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  8. Angela, um texto deliciosamente carioca.Adorei! Vivi intensamente esse passeio através de suas palavras. O melhor de tudo: senti o sol, vi o lindo dia e até presenciei vc andando naquela bicicleta. Adorei!

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  9. Angela: adorei sua crônica. Não só o fato de você ter o dom do escrever com bom conteúdo mas também pela sutileza e muita graça. Um texto delicioso de se ler várias vezes e imaginar toda cena com um bom sorriso. Não caminho com bicicleta há muito tempo mas você passou uma vontade enorme de pegar aquela velha Rabeneick que usava quando ainda tinha calças curtas ! Vou pelo menos amanhã pedalar na Academia e pensar no que acabo de ler tão gostoso. Abraços, Raul Abreu

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