domingo, 29 de novembro de 2009

Entre a "dor" e o "nada", o que você prefere?


Não quero defender as relações falidas e que só fazem mal, nem estou sugerindo que as pessoas insistam em sentimentos que não são correspondidos, em relacionamentos que não são recíprocos, mas quero reafirmar a minha crença sobre o quanto considero válida a coragem de recomeçar, ainda que seja a mesma relação; a coragem de continuar acreditando, sobretudo porque a dor faz parte do amor, da vida, de qualquer processo de crescimento e evolução.
Pelas queixas que tenho ouvido, pelas atitudes que tenho visto, pela quantidade de pessoas depressivas que perambulam ocas pelo mundo, parece que temos escolhido muito mais vezes o “nada” do que a “dor”.

Quando você se perguntar “do que adianta amar, tentar, entregar-se, dar o melhor de mim, se depois vem a dor da separação, do abandono, da ingratidão?”, pense nisso: então você prefere a segurança fria e vazia das relações rasas? Então você prefere a vida sem intensidade, os passos sem a busca, os dias sem um desejo de amor? Você prefere o nada, simplesmente para não doer?
Não quero dizer que a dor seja fácil, mas pelo amor de Deus, que me venha a dor impagável do aprendizado que é viver. Que me venha a dor inevitável à qual as tentativas nos remetem. Que me venha logo, sempre e intensa, a dor do amor...

Prefiro o escuro da noite a nunca ter me extasiado com o brilho da Lua...
Prefiro o frio da chuva a nunca ter sentido o cheiro de terra molhada...
Prefiro o recolhimento cinza e solitário do inverno a nunca ter me sentido inebriada pela magia acolhedora do outono, encantada pela alegria colorida da primavera e seduzida pelo calor provocante do verão...

E nesta exata medida, prefiro a tristeza da partida a nunca ter me esparramado num abraço...
Prefiro o amargo sabor do “não” a nunca ter tido coragem de sair da dúvida...
Prefiro o eco ensurdecedor da saudade a nunca ter provado o impacto de um beijo forte e apaixonado... daqueles que recolocam todos os nossos hormônios no lugar!

Prefiro a angústia do erro a nunca ter arriscado...
Prefiro a decepção da ingratidão a nunca ter aberto meu coração...
Prefiro o medo de não ter meu amor correspondido a nunca ter amado ensandecidamente.

Prefiro a certeza desesperadora da morte a nunca ter tido a audácia de viver com toda a minha alma, com todo o meu coração, com tudo o que me for possível...
Enfim, prefiro a dor, mil vezes a dor, do que o nada...

Não há – de fato – algo mais terrível e verdadeiramente doloroso do que a negação de todas as possibilidades que antecedem o “nada”.

E já que a dor é o preço que se paga pela chance espetacular de existir, desejo que você ouse, que você pare de se defender o tempo todo e ame, dê o seu melhor, faça tudo o que estiver ao seu alcance, e quando achar que não dá mais, que não pode mais, respire fundo e comece tudo outra vez...

Porque você pode desistir de um caminho que não seja bom, mas nunca de caminhar...
Pode desistir de uma maneira equivocada de agir, mas nunca de ser você mesmo...
Pode desistir de um jeito falido de se relacionar, mas nunca de abrir seu coração...

Portanto, que venha o silêncio visceral que deixa cicatrizes em meu peito depois das desilusões e dos desencontros... Mas que eu nunca, jamais deixe de acreditar que daqui a pouco, depois de refeita e ainda mais predisposta a acertar, vou viver de novo, vou doer de novo e sobretudo, vou amar mais uma vez... e não somente uma pessoa, mas tudo o que for digno de ser amado!



Fonte: artigo de Rosana Braga (http://www.rosanabraga.com.br)

9 comentários:

  1. Li o texto com a atenção que tu mereces e fiquei aqui pensando que tu deves ser uma pessoa muito sensível, a julgar pelos textos que busca e publica em seu blog.
    Esse texto mesmo me fez pensar aqui nas coisas que deveria fazer e não faço. Do que deveria pensar e não penso. E do quanto fico as vezes na minha quando era para aparecer; dar as caras.
    Curioso como alguns textos tem a propriedade de nos fazer ficar pensando, remoendo, revisando as coisas. Esse foi um. Obrigado por me fazer conhece-lo. Gostei do que li aqui por que em muito se encaixa na espécie de atitudes e reações que as vezes tenho e demonstro.
    Um abraço!

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  2. "A dor faz parte do amor"? Não sei, acho que não. Creio que um filósofo escrevera e o Renato Russo musicalizou que "toda dor vem do desejo de não sentirmos dor". E por que rimar amor com dor? (Roberto Freire). Enfim...

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  3. Dor é vida, não acredito em uma existência sem algum tipo de sofrimento. É da própria natureza de "estar vivo". O medo de sentir dor não acaba justamente causando outro tipo de sofrimento? Temos que ter coragem e seguir tentando...é o que eu acredito.

    Belíssima reflexão, como sempre Ângela!

    Cacau

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  4. Para mim é inegável que a dor faz parte do amor e da vida, porque tanto a vida quanto o amor, estão sujeitos às perdas e ganhos.

    Certa vez eu li em algum lugar, que "quem não aceita o risco, não aceita a vida." E amar faz parte da vida, assim como a dor, aceitemos ou não! A perda da própria dignidade diante desta realidade sim, resvala na fraqueza interior, que aliás não deixa de ser um sentimento prá lá de humano, que me abstenho de julgar.

    Bjs.

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  5. Oi Angela,
    Não conhecia esse texto, mas sem dúvida é muito real e quem não se viu dentro desse contexto? Muito bom, amei!

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  6. Angela,
    Gostei do que li e repasso.Acho que complementa a idéia deste texto.Aliás, são palavras da Clarice também.
    "Eu fazia do amor um cálculo matemático errado:pensava que somando as compreensões,eu amava,não sabia que somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente.Porque eu,só por ter tido carinho pensei que amar é fácil."
    Bjs
    Alice

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  7. Olá Angela ando racional demais e portanto fugindo do amor! rsrsrs
    Quando li o texto pensei: "Nossa que puxão de orelha!
    Juro que vou pensar menos ou talvez apenas pensar com mais esperança.
    Beijos

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  8. Sem palavras! Adorei o post!
    Se me permite segui-la!
    Abracos!

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  9. comecei a ler e tive de ler cada linha até ao fim. muito bom, muito cativante :)

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